A passagem evangélica de hoje, com o anúncio da traição de Judas e da futura negação de Pedro, situa-se nas preliminares da celebração da Ceia Pascal. Jesus está reunido com os Seus discípulos. Acabado o lava-pés, passa a anunciar-lhes a traição de um deles. A perplexidade invade o grupo. O discípulo amado, João, por indicação de Pedro, pergunta ao Mestre quem é o traidor. “Aquele a quem eu der o pão umedecido no molho. E umedecendo o pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Depois do pão entrou nele satanás”.
Aquele oferecimento do pão, feito por Jesus a Judas, não deixaria de ser um sinal de distinção, como convidando-o a retificar os seus planos homicidas e a reaver uma amizade rompida pela sua ambição e ressentimento. Tudo foi inútil. Judas rejeitou definitivamente o amor de Jesus. Então, Cristo disse-lhe: “O que tens a fazer, faça-o depressa”.
Quando Judas saiu da sala era de noite, fala João com intenção simbólica. O traidor é um exemplo das trevas sobre as quais brilhou em vão a luz, segundo diz o prólogo de São João. Judas é o que ama as trevas mais que a luz, porque as suas obras eram más. Chegou a noite predita por Jesus, a do poder das trevas. Mas a longa noite que então se abateu sobre a terra terá a sua aurora no primeiro dia da Ressurreição do Senhor.
Os apóstolos não entenderam a que se referia Jesus com a Sua glorificação, mas algo de surpreendente suspeitavam quando Pedro lhe pergunta: “Senhor, para onde vais?… darei a minha vida por ti. Jesus respondeu-lhe: Darás a tua vida por mim? Em verdade te digo que não cantará o galo sem que me tenhas negado três vezes”. Os discípulos não podem seguir Cristo no Seu caminho para a morte; não estão ainda preparados. O silêncio adensa-se. Jesus já pode começar Seu discurso de despedida.
Dois homens que falham: Judas e Pedro. Mas o seu pecado tem origem diversa: num é a avareza que odeia, no outro, a debilidade que ama. E o final deles é muito diferente: Judas se desespera e Pedro arrepende-se. Naturalmente, o que amava conhecia Jesus melhor do que o que odiava.
Nem o plano traidor de Judas nem a generosidade impetuosa e frustrada de Pedro influirão no desígnio que já está marcado pelo Pai e aceito por Jesus. Ele tinha dito: “Por isso o meu Pai me ama: porque eu entrego a minha vida para a poder recuperar. Ninguém me tira, mas sou eu que a entrego livremente”. E na ceia comentou: “Ninguém tem maior amor que o que dá a vida pelos seus amigos”. Essa é a missão de Jesus e do cristão: amor que dá vida aos outros.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova
*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia. p. 165-166. Paulus: 2000.